cantos de euclides
O que aconteceu nesta terça-feira nas ruas de Volta Redonda, dificilmente irá se repetir.
Foi como um eclipse.
O sol se abriu sobre nossas cabeças fazendo com que as nuvens contornassem as ruas e que tivéssmos um refletor natural, iluminando somente a cena. Uma estrela “estrelando” nosso elenco. Demos todas as energias que tínhamos e ainda utilizamos a reserva, a reserva da reserva!
Montamos nossos cavalos alados e o deixamos voar, às vezes nos degladiamos com esse cavalo e tomamos seu lugar, voando por nossa conta e carrengando-o em nossas costas. As ruas pararam. As pessoas agiram. Inter-agiram. A itinerancia, o ritmo, a música, as identidades brasileiras sem muros facilitam a magia.
Para nós artistas foi um prazer imenso, uma honra apresentar em nosso quintal. No sítio de nosso cotidiano. Poder invadir a silhueta de nosso dia-a-dia.
Tudo isso tem que ser agradecido à pessoa do professor Marcos Marques.
Ele tornou possível essa oportunidade de trazer paras terras de aço uma história que cruza gerações e completa um centenário. O professor nos deu toda a estrutura necessária para que tudo desse absolutamente como o planejado, sem incidentes ou imprevistos. Facilitando os rueiros fluirem nas artérias urbanas como células de vitaminas de um sistema anêmico e obsecado pelo consumo. Mas o teatro remedia isso. O verdadeiro teatro, o mesmo que fala Artaud: “Ora, o que me parece melhor realizar em cena essa iédia de perigo é o imprevisto objetivo, o imprevisto não nas situações mas nas coisas, a passagem intempestiva, brusca, de uma imagem pensada para uma imagem verdadeira(…)”.
O inesperado, as surpresas, os sustos, são temperos que misturados com a transpir-ação, com o suor dão um toque especial ao brado daqueles que defendem, como guerreiros, sua arte e o mais fascinante disso tudo é que a platéia entra na gira, na espiral catártica, no êxtase ritualístico e no final… ah… no final… todos parecem saltar a fogueira das bacantes!
Teatro é feito de vivência, feito de atores e espect-atores, de ação. Usamos pouco a palavra, mas fechamos tudo com uma ciranda dedicada a ela, a alavanca forte, ela que sempre volta alente a essa verdade.
Evoé!
fotos de Raquel Devechi
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